Tuesday, August 4, 2015

Captivant de Chaland Cornillon Por Paulo Pereira

Comparto três grandes interesses com Paulo Pereira: a história da arte, o xadrez, a banda desenhada. No século passado (há uma vida) Paulo Pereira era crítico de banda desenhada no jornal Expresso (por estranho que possa parecer já houve crítica da citada no dito cujo). Não comparto grande coisa com os seus gostos convencionais franco-belgas, mas o pouco que dele reli parece-me arguto e verdadeiramente crítico. Só a título de exemplo, e de homenagem, reproduzo (com muitas desculpas pelo formato algo, ou muito, estranho) um dos seus melhores textos. 

Uma das características mais irritantes da crítica tradicional de banda desenhada (praticada por bedófilos) é a completa falta de sentido crítico. Tintin é racista? Nunca! Astérix é xenófobo? Nem pensar! "O Caminho do Oriente" é propaganda fascista e revela orientalismo? Que ideia! Etc... Ora acontece que se bem que en passant Paulo Pereira  diz que a banda desenhada infantil que os bedófilos tanto presam era colonialista (e extremamente racista, acrescento eu). Para além disso Paulo Pereira é certeiro ao apelidar o "modo" que descreve como desconstrução pós-moderna. Bravo! 

Eis, portanto, um verdadeiro crítico de banda deesenhada português há quase três décadas. Não tinham havido muitos antes, não houve muitos depois...


Paulo Pereira, Expresso, A Revista, 19 de Dezembro de 1987.

PS Marcos Farrajota lembra-me que Sara Figueiredo Costa escreve no Expresso. É bem lembrado e penitencio-me por não fazer a ressalva, mas a crítica de banda desenhada é tão esporádica no dito jornal que, espero, a Sara me perdoará o esquecimento. Aliás, o meu comentário não quis dizer "há quem escreva, mas sem qualidade". O meu comentário quis mesmo dizer "ninguém escreve porque a política editorial não está p'rái virada".

2 comments:

Anonymous said...

Paulo Pereira foi um crítico excelente, não obstante o seu conhecimento não ir muito além da BD franco-belga e dos seus «heróis» (apenas me recordo de uma crítica à edição brasileira do Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller, apresentando a obra como revolucionária e, consequentemente, demonstrando o seu total desconhecimento do que se fazia além-mar).

Já do divulgador de BD comercial que lhe sucedeu (João Paiva Boléo), recensor da BD comercial mais rasca e fan incondicional do «delicioso» Tintin e doutras coisinhas chãs, não há memória a guardar.

Isabelinho said...

Caro Daniel:

Obrigado pelo comentário.
Concordo em absoluto, tanto com a primeira como com a segunda parte. O que aconteceu foi que Paulo Pereira nunca foi um crítico de banda desenhada. Aliás, essa profissão não existe.